sexta-feira, 26 de maio de 2017


Um semeador sai a semear

Ciro – Dr. Gil Alves dos Santos,

Tão curioso como seu nome era o autor das notas sublinhadas com o nome poderoso daquele que um dia ainda seria festejado em letras grandes pelo Gore Vidal.

As edições da Folha da Mãe Ana, intimorato jornal de página única editado no jornal O Dia do coronel Octavio Miranda, pelo bancário do Banco do Brasil, Deusdeth Nunes dos Santos, o Garrincha, referência mais lendária que genealógica ao “gênio das pernas tortas” do futebol brasileiro, tinham colaboradores diversos, exclusivos de bons textos.
E de curiosa relação trabalhista: ninguém era pago. Escrevia-se pelo prazer de ler depois os próprios textos impressos em letra de forma. Estamos nos anos 70.
No Brasil queimam a ditadura militar de um lado, os escondidos de outro. E, de permeio, jornalistas que não aderiam ao golpe. Nem aos revolucionários da época. Era o que se chama de povo “em cima do muro”.
Ficávamos batucando nas máquinas do coronel: fazendo notinhas de agrado, pequenas noticias que não prejudicavam ninguém nem a oposição nem o governo.
Este, cioso, praticava a doação de óbulos generosos no formato de cotas aos jornais que, porquanto pagos, mais silenciosos. Entre os escrevinhadores da Folha tinha o Ciro Rei da Pérsia.
Tão curioso como seu nome era o autor das notas sublinhadas com o nome poderoso daquele que um dia ainda seria festejado em letras grandes pelo Gore Vidal.
Ciro era, portanto, um homem nascido para glorias que o acanhado espaço reservado a um escriturário do Banco do Brasil não podia conter.
Digo a bem da verdade que Ciro, rei da Pérsia, escrevia com a pontualidade britânica admitida aos sinos do relógio inglês.
Era sexta-feira e lá vinha o Ciro com suas notas cheias de picardia sobre temas do cotidiano. Bancários do Banco do Brasil tinham a má fama de escrever bem. Vejam ai o Jaguar, criador do Pasquim, o OG Rego que escreveu romances únicos. Que arrombaram as fronteiras culturais do Piauí e atingiram os gabinetes de leitura de Brasil, Portugal e lonjuras outras.
Digo má fama porque os que viviam da produção de notas, sueltos, editoriais, colunas e potins dos jornais da época torciam o nariz para os apadrinhados da sorte: ora porque já trabalhavam no Banco do Brasil que representava o mesmo que ser diretor da madrinha mãe Petrobras e suas generosas fortunas, ora porque nem precisavam dos gelds da ranzinza folha e seu prezado diretor que também era bancário.
Ciro escrevia e ia fazendo nome. E todos pensavam que ele acabaria de corcunda ardida de tanto debruçar-se a favor dos interesses do grande estabelecimento estatal.
Lendo as notas de Ciro percebi que ele seria muito mais que simples registro na galeria dos grandes funcionários da portentosa casa bancaria.
Ele queria mexer mais fundo nas feridas da sociedade brasileira civil cristã ocidental capitalista. E injusta.
Anos depois dos tempos bons do jornal do coronel perdi contato com o pessoal da Mãe Ana. Todos tomaram rumos diferentes, mas sobrevivendo no mesmo território.
Um dia o encontro na rua, salão principal das relações sociais dos amigos de ontem e de hoje. Todos têm um amigo encontrado na rua. Se não o tiver é porque não o tem de jeito nenhum.
Ao seu estilo Ciro não regurgitou cantadilhas provincianas dos bem de vida: aqueles que se dizem realizados posto que os filhos estejam formados. Alguns com netos. Outros com amantes escondidinhas na folha secreta dos currículos pessoais.
Apenas indicou seu escritório de advocacia situado ao fundo de silencioso corredor de prédio comercial.
Lá está com ditos e profundos dizeres práticos sobre a notável arte de defender os injustiçados frente àquela que não vê e exibe balança de mercador.
Na outra mão espada de gladiador, desse povo que acerta golpes nos pescoços alheios.
Uma vez acordei assustado com descoberta agitada de que o Brasil estava cheio de pessoas gerais especializadas na mercantilização do talvez.
Mercadores de talvez são os que prometem. Logo não pagam, Posto que se pagassem não alegariam a dádiva suspeita da promessa.
Ciro é o advogado Gil Alves dos Santos. Ninguém o conhece como “Ciro”. Tal o ineditismo de amizade de máquina de escrever.
E a sua assessoria olha para mim como se fosse fantasma do meio-dia. Dizem – os mais temíveis. E terríveis – acho.
Desfeitos os mal entendidos vejo-me frente a frente com o meu amigo Ciro, rei da Pérsia. Está mais arredondado. Coisas da idade que insiste em ampliar nosso contorno e aplicar cinza plúmbea sobre nossa cabeça em que ainda resistem touceiras capilares saudosas e experientes.
Gil Alves dos Santos é leitor perspicaz. Ouvinte assíduo também o é. Dos que enveredam pela poesia diluída em frases sonoras porque a letra da musica tem que corresponder à práxis da métrica e ao ritmo correspondente. Coisa que exige respeito e dedicação. Hoje, o que temos são oportunistas que adicionam malicia a versos quaisquer e saem por ai lepo lepo fazendo sucesso que a economia farrista do Brasil atual avaliza. E compra.
Dr. Gil, a bordo do seu canudo de advogado, instalou seu escritório com lema latino “Ecce exiit seminat, seminare”. O que se traduz por “Eis que o semeador sai a semear”.
É ele o semeador. Tem ao seu favor a curiosidade que o levou a reproduzir em texto exemplar as naturais singelezas de quem mora no interior do Nordeste sob as proteções das palmeiras onde o próprio Gonçalves Dias disse que é “onde canta o sabiá/as aves que aqui gorjeiam/não gorjeiam como lá..”
Sua descoberta se dá com a tragédia do “O ébrio” canção que marcou a juventude dos anos 50 pela sua estrutura singular tratando-se da decadência de cantor erudito que termina seus dias entregue aos rigores da dependência do álcool Ao tempo em que ainda não havia nenhum estudo capaz de deliberar sobre os perigos da bebida e os males que provoca nos que a adotam.
Por vias paralelas apresenta o contexto do rádio e sua representação na família com seu noticiário, seus musicais e o status que conferia aos que detinham a posse de um legítimo aparelho ABC – A voz de ouro e o inolvidável canarinho que ornamentava a mesinha da sala de visitas.
O agora dr. Gil recupera a agilidade do Ciro, rei da Pérsia e seu texto coloquial. É claro que um cidadão que se forma sob a égide da curiosidade e o compromisso de amar e a honrar a família numerosa não pode ser uma pessoa comum.
Ao seu escritório acorrem os que precisam do socorro da justiça porque ele defende que o “Direito não se pede, direito se requer. Transcrevo o texto em que o autor mergulha na densa literatura de “O ébrio”, que tanto o encantou:

O ébrio e o rádio
Por Gil Alves dos Santos
1 – Nos anos de 1955 a 1958 o meu pai e o seu cambão de filhos, este escriba, inclusive, mais uma tropa de 15 ou 20 jegues, estávamos zanzando entre os povoados Zumbi e Tapera, propriedades do Coronel Luiz Firmino, à direita e à esquerda da estrada que nos leva até Matões, Maranhão. Papai fora convidado para administrar as fazendas daquele, à época, magnata ilustre, já falecido.
2 – Pobres, sim, mas não miseráveis, tanto que convivíamos com algumas modernidades, dentre elas, um rádio ABC, a Voz de Ouro, o canarinho, que estou restaurando, funcionava com pilhas de lanternas, das grandes (as pilhas). A maravilha de então, salvo engano, era fabricada em Recife, com cinco faixas de ondas que, com uma antena de cobre estendida sobre a casa, pegava realmente tudo. Minha avó Angélica, realmente um anjo feito mulher, por isso uma neta homônima, cujo oficio, por título e competência, é cuidar dos bichos, dizia não entender como a voz e a criatura desciam por um fio tão fino e ninguém os via. Os ouvíamos. Mas não faça galhofa da vovó, pois D. Pedro II, imperador deste Brasil e portador de vários títulos acadêmicos ao testar um aparelho telefônico, na presença de Graham Bell, o inventor da modernidade, disse, espantado: - tem um homenzinho aí dentro.
3 – Numa dessas mexidas matinais ouvi, pela primeira vez, na Rádio Aparecida, que funciona desde 1937, na frequência à época medida em quilociclos, e nunca me esqueci, o bolero Neutro Juramento, de Benito de Jesús, na interpretação de certo Júlio Jaramillo, já falecido. Esse bolero, que o VTS guarda num baú de relíquias, chamado de Caixa Preta, aqui entre nós tornou-se conhecido com a gravação do Trio Cristal, em sua segunda fase, tendo o jovem Altemar Dutra como um de seus integrantes, aí pelos anos de 1965 a 1967, sendo paraguaios os demais. Nessa década distante eu já estava alfabetizado.
4 – No entanto, o título destas linhas mal traçadas é “O ÉBRIO (A CANÇÃO) E O RÁDIO”, não o ébrio que tomba sob os efeitos do álcool, mas a canção de Antônio Vicente Felipe Celestino, de 07.08.1936, versão pouco conhecida, sendo famosa aquela com a declamação introdutória também dele, em gravação de março de 1957, tendo como matriz a trilha sonora do filme homônimo, rodado em 1946. Foi esta e não aquela que – anos mais tarde – entraria pelos meus ouvidos por intermédio do bom e inesquecível canarinho, quando morávamos no povoado Tapera, cujas noites bem iluminadas por um também inesquecível Petromax, uma usina de iluminação a querosene tipo candeeiro, e modernidade para poucos, tinha o silêncio quebrado pelo cantar da coruja – bacurau. Foi nesse ambiente que lia em voz alta “os romances” do Pavão Misterioso; As Aventuras de João Grilo; Lampião Chegando ao Inferno, e outras maravilhas do imaginário popular conhecidas como literatura de cordel.
5 – Numa noite de um mês de 1958 ou 1959 que não me recordo, talvez dezembro, pela ocorrência das férias escolares, em sintonia com a Rádio Sociedade da Bahia, que existe desde o ano de 1924, um cantor, com uma voz de quebrar até copos de vidro, assim iniciava a sua canção: “Nasci artista, um cantor. Ainda pequeno levaram-me para uma escola de canto. O meu nome pouco a pouco foi crescendo, até chegar aos píncaros da glória. Durante a minha trajetória artística tive vários amores. Todas elas juraram-me amor eterno, mas acabavam fugindo com outros, deixando-me a saudade e a dor. Uma noite, quando eu cantava a TOSCA, uma jovem da primeira fila atirou-me uma flor. Essa jovem veio a ser mais tarde a minha legitima esposa. Um dia, quando eu cantava A FORÇA DO DESTINO, ela fugiu com outro deixando-me uma carta, e na carta um adeus.”
6 – Um zumbiano que se divertia ladeira abaixo com capembas de palmeiras de babaçu, como se fosse um par de esquis, e varas de talo-de-coco, como se bastões, não tinha como não tem a menor noção do que era “...cantar a TOSCA ou A FORÇA DO DESTINO...” como chamariz para impressionar a mulher amada ou candidata a. Anos depois, na formação acadêmica, e como me ensinou o amigo Antônio de Pádua Soares, um poço de sabedoria, no Banco do Brasil, fiquei sabendo que as coisas cantadas por Vicente Celestino eram óperas: - TOSCA, de Giacomo Puccini (em DVD da Decca) e a FORÇA DO DESTINO (em DVD da LW-Editora), de Giuseppe Verdi. Ambas, que hoje as conheço, são soberbas!
7 – O ÉBRIO, música de 1957, não associava o sexo ao pecado, predominante nas canções da época – Argumento, de Adelino Moreira (...meu pecado quase crime de um beijo sem permissão...) e Última Estrofe, de Cândido das Neves (...e o beijo do pecado...). A temática é a infidelidade conjugal, elevada à condição de tragédia social do alcoolismo, daí, com certeza, a referência à ópera A Força do Destino, que também tem a tragédia, a honra, a vingança, como pano de fundo. Vicente Celestino deve lembrar, era completamente abstêmio, nunca tomou um gole de bebida alcóolica, o que não impediu, na confusão entre artista e personagem, que Gilda de Abreu, sua mulher, fosse duramente espinafrada, por levar um homem bom ao fracasso, traindo-o e depois, à lama, tornando-o um farrapo humano (Há um DVD americano com este título, o mesmo tema, a mesma época, ofuscado, no entanto, pelo Ébrio de Celestino), pelo vício do alcoolismo, fato agravado quando do lançamento do filme do mesmo nome, em 1946. Neste filme, em DVD da Versátil, que tenho em mãos, completamente restaurado, um fenômeno de público, Vicente Celestino era o Doutor Gilberto Silva, médico famoso que, traído pela mulher, abandona tudo e se entrega à bebida, chegando à condição de mendigo, há uma frase famosa dita por Gilberto após encontrar-se com Marieta: - “Eu disse que perdoava. Não disse que com ela me reconciliava.”
8 – Ouvidos educados ao somo de O Ébrio, Patativa, Porta Aberta, Caminhemos (Herivelto Martins), Carinhoso (Pixinguinha e João de Barros), Serra da Boa Esperança (Lamartine Babo), vão estourar com Ai... se eu te pego (Michel Teló), Eguinha Pocotó (Serginho), Vai Lacraia (idem).
Em outro texto ele analisa o surgimento da nova música popular brasileira contemplando o que se faz hoje neste campo e o cenário em que se escutam tais músicas.
Pelo seu texto moderno conduz o leitor a um laboratório de lembranças que existe em Teresina com assinatura de um lendário barista com formação autóctene e exclusiva competência para produzir peixe no formato ribeirinho.
 A um tempo para contextualizar o lado romântico das história do grande Ciro e do celebrado Dr. Gil lembro que o laboratório está colocado no âmbito da Paissandu que já foi- há anos – a nossa Rua Augusta aonde se locupletavam os locadores de quartos para as raparigas, as jovens e não tanto mulheres que se entregavam ao mais antigo ofício do mundo
Devo dizer consoante que em instantes o autor nos leva a velha India, à notável Alemanha e sua produção lítero/musical fortíssima na formação de novos conceitos da cultura universal e ao fim mergulha como um escorregador de capembas numa análise de Adelino Moreira em música celebrada por Nelson Gonçalves.
Ciro, rei da Pérsia moraria tranquilamente em Nova Iorke para escrever na sua mais portentosa revista a própria New Yorker, se não fosse seu compromisso com o futuro o de semear O direito.
Transcrevo sem aspas nem sublinhas seu segundo texto. O primeiro fala do continente ou o emissor da mensagem radiofônica; neste ele esboça uma revisão do conteúdo de mensagens que os menos atentos deixam passar ao largo como um lepo lepo qualquer.

Baú musical
Escarafunchado nas mesas do VTS
Gil Alves dos Santos
De passagem pela Índia, rica e miserável, fui até Agra, cidade onde se localiza o conjunto arquitetônico, na verdade palácio funerário, feito em nome do e para o amor, conhecido como a oitava maravilha do mundo. Essa maravilha do século XVII, toda em mármore branco celestial, pela pureza que encerra, é uma homenagem do sultão SHANJAHAN para sua falecida e amada mulher MUMTAZ-I-MAHAL, daí o nome como é conhecido: TAJ MAHAL.
Só o binômio amor-paixão pode justificar ou explicar obra tão bela e fantástica. Única no mundo, materialmente falando!
Da Ásia central para o Ocidente, nas asas dos meus sonhos impossíveis, dei de cara, na Alemanha, com outro monumento: - um canto, também de enlevo à paixão, conhecido e sintetizado no romance WERTHER, de Wolfgang Goethe, baseado em experiência vivida e sofrida pelo próprio. Ele se apaixona por Carlota, esposa de Kestner, seu amigo nº 1. Quem desejar conhecer a obra verá até que ponto pode chegar a paixão de um homem por uma mulher, que a Danusa Leão em “EM QUASE TUDO” define muito bem. Lindíssimo, o romance, mas impróprio para o deprimido, doentio, esse que tem raiz em “pathos”, como significado de doença, morbidez.
Mas, considerando o tema enfocado, “cadê” a música do Baú ou o Baú de música?
O fascínio do amor-paixão produziu, aqui, graças à genialidade de ADELINO MOREIRA, morto em 11.05.2002, esse Rodin da música brasileira ou para Tárik de Sousa “...o caixeiro viajante das emoções...”, outro monumento, o mais belo de todos, ao menos para mim, com certeza, pela universalidade dos tipos de que se vale, materializado na composição conhecida como ESCULTURA, imortalizada por Nelson Gonçalves, gravada em dezembro de 1957, marcante já na abertura quando a orquestra em tutti com predominância dos naipes das cordas e da percussão, sustenta Lourdinha Bittercourt – e não Ângela Maria, como muitos pensam – anunciando a entrada da intérprete da música, cuja letra é a seguinte:
Cansado de tanto amar
Eu quis um dia criar
Na minha imaginação
Uma mulher diferente
De olhar e voz envolvente
Que atingisse a perfeição
Comecei a esculturar
Do meu sonho singular
Essa mulher fantasia
Dei-lhe a voz de DULCINÉIA,
A malícia de FRINÉIA
E a pureza de MARIA.
Em GIOCONDA fui buscar
O sorriso e o olhar;
Em DUBARRY o glamour.
E para maior beleza
Dei-lhe o porte de nobreza
De MADAME POMPADOUR.
E assim de retalho em retalho
Terminei o meu trabalho
No meu sonho de escultor.
E quando cheguei ao fim,
Tinha diante de mim,
Você, só você, meu amor.
O apaixonado quer uma mulher assim: - que tenha voz de Dulcinéia, a Del Toboso, de Dom Quixote, porque ela é perfeição: - que tenha a malícia de Frinéia, porque ela motiva e vence até o mais fechado dos julgadores, pois que absolvida da acusação quando e exibe nua perante a Corte que a estava julgando;
- que tenha a pureza de Maria, porque ela representa a santidade;
- que tenha o sorriso de Gioconda, porque é única, misteriosa, inigualável;
- que tenha o glamour de Dubarry, porque é amada e amante;
- que tenha, finalmente, o porte de Madame Pompadour, porque até para conquistar o coração ela é nobre e única.
Com tantos atributos, o cinzel baixado, ou melhor, a caneta, eis diante do escultor apaixonado uma mocinha, de cabelos longos, uma perfeição de mulher, Vênus em poema, nascida de um sonho singular. Uma criatura divina, cândida, escultural, de fazer inveja a qualquer prego.
Sim, pois somente um brasileiro, misturando o sagrado e o profano, criaria um monumento ao amor, único no mundo, em forma de cantiga, de rara beleza, custodiada pelos querubins celestiais. Mas o fato é que, também de rara beleza e sabor, é o peixe do VTS, na simplicidade de um mestre sem frescuras, agora com a vista tinindo de nova, que no prato se espalha e se desfaz como  pétalas. De qualquer forma, estou perdoado, pois a sabedoria deste escriba é de almanaque, mais precisamente Capivarol, por isso vou ficando por aqui. E se o Pedro Costa consentir, ainda volto.
GIL ALVES DOS SANTOS
Destaco outra crônica do doutor Gil Alves dos Santos que mais ilustra sua facilidade para elaborar textos em que agrega a sentimentos pessoais suas reflexões sobre temas do cotidiano carregados de significados. Ressaltando visão social abrangente e acolhedora do drama humano.
Gil Alves dos Santos é bacharel em Direito pela Universidade Federal do Piaui. Aposentado Banco do Brasil foi também assessor jurídico do Tribunal Regional do Trabalho no Piaui – TRT-Pi.
Agora vamos acompanhar o autor a uma viagem ao passado em que, sob formato de missiva expõe mais uma aventura de observador da cena diária dos dias de hoje e do passado.
            TÚNEL DO TEMPO:-  CARTA DE DESPEDIDA A UMA EX-AMANTE.
                                                 Por        GIL ALVES DOS SANTOS  

            1 – O ano foi o distante 1968, junho era o mês quando a conheci na SERRANO & CIA, uma tem-de-tudo da época, não restando hoje nem mesmo um  tijolo como lembrança daquela loja. Numa olhada, longe de mim um Don Juan, percebi que a conquista era fácil, ainda que a me valer de uma carta de alforria a ser paga ao dono e senhor da loja, pois para ele a minha pretendida não passava de um objeto. De fato, em questão de minutos, sem, no entanto, ser uma leviana, cá estava ela a me fazer companhia, diga-se duradoura, ao longo  de quarenta e uns anos.
            2 – Não sei se ela foi a Amélia de minha vida,  pois longe da subserviência da canção cuja letra é de Mario Lago, gravada por Ataulfo Alves, autor da melodia, em  novembro de 1941, sucesso absoluto até hoje. Também nunca pensou em riqueza, menos ainda em luxo. Foi ela, na verdade, uma companheira dedicada, competente. Morena, meiga, uma sapoti, gostava e aceitava todos os meus toques,  mesmo não sendo piano, para lembrar a Delegada Wilma, que me pareciam suaves. O prazer era total assim como total foram as nossas cumplicidades. Quando eu era mais jovem, procurando emprego, um patrão sádico, tarado, perverso, exigiu que eu fizesse nela,  na presença dele, como num strip-tease, a performance de novecentas bolinações em cinco minutos, com a cara e o pescoço torcidos, sem olhar para as suas voluptuosas saliências  -  no bom sentido, devo dizer.
            3. Sem meia luz, sem gato de porcelana, mas com uma vitrola que chorava e assim continua, como na canção de Edgard Nonato e Cesar Lenzi,  lindíssima aqui como Meia-Luz, na versão de Floriano Faissal e voz inconfundível quanto insuperável de Nelson Gonçalves, ficávamos até alta madrugada, nós dois, bem juntos, ela obedecendo meiga e fielmente aquilo que eu lhe ia pedindo ou repassando. Dedicada, leal no absoluto, era cônscia da sua condição de amante, me fez companhia  nas muitas  viagens que fiz e até transitou nas mesas do VTS, apesar de abstêmia, sem nada reclamar, sem nada pedir  - quando muito uma peça de chita para poupá-la da poeira deste chão árido e seco ou do frio nas longas noites nos ônibus para o sul deste Estado.
            4. Nunca foi exibida, certo que portadora de uma beleza invejável, ímpar. Não exigia aposentos de luxo; o tempo todo era colada em mim. Jamais me apresentou uma nota de compra ou fatura de cartão de crédito   -  e se assim fizesse com certeza ficaria mais cativo ainda, não como moeda de troca, mas pela gratidão, também pela regra de que o amor sem conforto não resiste a uma pequena tempestade. Hoje os tempos são outros! Fica-se por uma noite e pronto.
            5. As sandálias mais do que franciscana eram sempre de cor preta. Ocasionalmente misturava preto com vermelho, quem sabe por ser daltônica, não como indicação de perigo ou um aviso para não avançar o sinal daqueles dias. Jóias,  jamais, mesmo e porque não sabia ela fazer a distinção entre uma pedra preciosa, uma gema ou bijuteria. Tudo era absolutamente igual, como os rolex’s,  midos   ou outras grifes do Sabará, nas vitrines do Diga-meu-bem.  Assim, palmilhamos toda uma existência, de puro companheirismo, lealdade ímpar, respeito mútuo, de total e intraduzível intimidade.
            6 – Não me chamem de calhorda, ingrato, mas o fato é que a minha companheira e amante, tornou-se uma velha, uma balzaquiana,  mesmo conservando as curvas indescritíveis, a pele sem uma única ruga, sem botoque, uma dama com a mais alta dignidade. Mas ela, devo dizer, pois a perfeição humana não existe,  nunca se interessou pelo modernismo. Jamais encarou, pelo menos,  o  mundo da alta costura ou estilistas como Coco Channel, Paco Rabanne, Christian Dior. Informática,   -  e nesta parte a velhice chegou rápida,  inevitável  -  jamais, pois para ela e nisso tem razão o computador não passa de uma máquina burra:-  sáite, web, Google, internet, processo virtual, nem pensar!
            7 – Por isso, aqui e agora, vou revelar o nome, a identidade de minha leal, doce e dedicada amante, seguida de uma notícia estarrecedora:-  Ela é uma OLIVETTI-LETERA-22, italiana, ainda com as curvas perfeitas, impecáveis, pronta para atender às exigências do dedicado companheiro. Uma máquina de escrever mais do que perfeita. Agora a bomba, o que não é novidade diante de recente decisão do Supremo Tribunal Federal,  autorizando a união de pessoas do mesmo sexo: troquei a OLIVETTI, feminina, morena, adocicada até mais onde não pode ser, por UM AMANTE, conceitualmente masculino, um Computador.  Minha querida OLIVETTI, minha boa máquina de escrever, adeus! Estou agradecido pelos 43 anos de feliz união, convivência, cumplicidade. Mas livre não serás! Ficarás trancada no espaço de minha estante, especialmente  arrumada  para recebe-te de modo absolutamente confortável.
citações
“trabalhavam no Banco do Brasil que representava o mesmo que ser diretor da madrinha mãe Petrobras e suas generosas fortunas, porque nem precisavam dos gelds da ranzinza folha e seu prezado diretor que também era bancário”.
 “Gil Alves dos Santos é leitor perspicaz. Ouvinte assíduo também o é. Dos que enveredam pela poesia diluída em frases sonoras porque a letra da musica tem que corresponder à práxis da métrica e ao ritmo correspondente. Coisa que exige respeito e dedicação”
“Numa dessas mexidas matinais ouvi, pela primeira vez, na Rádio Aparecida, que funciona desde 1937, na frequência à época medida em quilociclos, e nunca me esqueci, o bolero Neutro Juramento, de Benito de Jesús, na interpretação de certo Júlio Jaramillo, já falecido’
“Da Ásia central para o Ocidente, nas asas dos meus sonhos impossíveis, dei de cara, na Alemanha, com outro monumento: - um canto, também de enlevo à paixão, conhecido e sintetizado no romance WERTHER, de Wolfgang Goethe, baseado em experiência vivida e sofrida pelo próprio”
“O apaixonado quer uma mulher assim: - que tenha voz de Dulcinéia, a Del Toboso, de Dom Quixote, porque ela é perfeição: - que tenha a malícia de Frinéia, porque ela motiva e vence até o mais fechado dos julgadores, pois que absolvida da acusação quando e exibe nua perante a Corte que a estava julgando;”
“Por isso, aqui e agora, vou revelar o nome, a identidade de minha leal, doce e dedicada amante, seguida de uma notícia estarrecedora:-  Ela é uma OLIVETTI-LETERA-22, italiana, ainda com as curvas perfeitas, impecáveis, pronta para atender às exigências do dedicado companheiro. Uma máquina de escrever mais do que perfeita”






terça-feira, 27 de setembro de 2016

Prefeituras das capitais: conheça os 205 candidatos que concorrem nas eleições 2016

No domingo, o eleitor decide quem vai administrar nos próximos quatro anos
Pouco mais de 32 milhões de eleitores das 26 capitais estaduais estarão aptos a votar nas eleições de outubro. 

O primeiro turno do pleito ocorre neste domingo (2). No âmbito majoritário, são 205 candidatos disputando as prefeituras dessas cidades, o que significa uma média de 7,8 candidatos por cadeira. 

Desses, 154 concorrem em cidades onde o atual prefeito tenta a reeleição e apenas 44 (20,48%) são mulheres.

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) é o que tem mais candidatos nas capitais: concorre em 24 cidades, ficando de fora apenas em duas localidades da região Norte, Rio Branco e Macapá.

Em segundo lugar, vem o Partido dos Trabalhadores (PT) com candidatos concorrendo em 19 capitais, seguido pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em 16. As legendas com menos candidatos são PSD (Partido Social Democrático), com candidatos concorrendo em oito capitais, e PR (Partido da República), em sete. 

Conheça o perfil de cada um dos 205 candidatos às prefeituras das capitais

O mandato para o cargo de prefeito é de 4 anos. Dos seis chefes do executivo municipal que não disputam a reeleição, quatro já atuaram em duas gestões seguidas (Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Goiânia) e dois não quiseram tentar um segundo mandato (Florianópolis e Cuiabá).

Nas localidades em que a disputa não se decida no próximo domingo, o segundo turno ocorrerá no fim do mês, em 30 de outubro. Pela regra, o segundo escrutínio só pode ocorrer nas eleições para prefeitos e vice-prefeitos de municípios com mais de 200 mil eleitores.

Além disso, pelo critério da maioria absoluta, para ser eleito logo no primeiro turno, o candidato deverá obter mais da metade dos votos válidos e não, simplesmente, obter mais votos que seus concorrentes. A única capital brasileira que se encaixa no perfil dos municípios com menos de 200 mil eleitores é Palmas, que conta com 172.344 pessoas aptas a votar.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde o pleito de 2000, o número de mulheres eleitoras ultrapassa o de homens. Mas, esta é a primeira vez que o eleitorado feminino será maior que o masculino nos 26 estados onde haverá votação.

Essa conquista chega 84 anos depois de as mulheres terem garantido o direito de escolher seus representantes nas urnas. Apesar disso, o número de mulheres candidatas ainda é baixo. Elas representam cerca de 30% dos candidatos de todos os municípios brasileiros.  

O tempo médio de votação no próximo dia 2 de outubro deverá ser de menos de um minuto, segundo o TSE. Isso porque a escolha recai apenas sobre os cargos de prefeito, que são identificados por dois números, e de vereador, por cinco.


domingo, 25 de setembro de 2016

Cigarras anunciam mais seca no Piauí

Cigarras chegam às praças de Teresina

Eram 10 horas e 15 minutos desta manhã de setembro. As cigarras começaram a zunir inutilmente. Não anunciavam verão porque a seca em volta dela torra tudo. Há dias.

A cigarra, porém, disciplinada e monótona, começa a zunir aquele ruído específico que só ela sabe produzir. Cigarra que já inspirou tanta gente em prosas e versos.

Foi La Fontaine que escreveu sobre a cigarra e a formiga; a fábula que se transformava em lição de moral para crianças. Esta minha cigarra aqui da praça é perdida. Talvez sequer saiba que é heroína do mal de histórias infantis.

O que sabe é cantar e o que sei é que gosto de ouvi-la. Mais pela disciplina. Porque, a bem da verdade, diga-se, é melhor passar a vida cantando como ela do que trabalhando como formiga mal humorada.

Segundo os livros a cigarra ou Cicadoidea é uma superfamília da ordem Hemiptera, subordem Homoptera, que agrupa os insetos conhecidos pelos nomes comuns de cigarra e cega-rega.

Existem mais de 1 500 espécies conhecidas deste inseto (sendo que a Carineta fasciculata pode ser considerada como a espécie-tipo brasileira). 

São notáveis devido à cantoria entoada pelos machos, diferente em cada espécie e que é ouvida no período quente do ano. Os machos destes insetos possuem aparelho estridulatório, situado nos lados do primeiro segmento abdominal, emitindo, cada espécie, um som característico.

As cigarras também são reconhecidas pela forma característica e pelo tamanho grande, que varia de 15 milímetros até pouco mais de 65 milímetros de comprimento e atingindo até 10 centímetro  de envergadura. Possuem  “bico” comprido para se alimentar da seiva de árvores e plantas onde normalmente vivem.

A importância da cigarra no ecossistema é positiva, por um lado, por servir de alimento para os predadores e, negativa, por outro, porque se constitui em pragas de algumas culturas. 

As suas ninfas vivem alimentando-se da seiva das raízes das plantas, causando sensíveis prejuízos pela quantidade de líquidos vitais que retiram e pelos ferimentos causados às raízes, facilitando a penetração de fungos e bactérias.

Olegário Mariano amava as cigarras. Que nem eu que, quando menino, li e lembro até hoje da poesia que escreveu sobre elas:

O Enterro da Cigarra

As formigas levavam-na... Chovia...
Era o fim... Triste Outono fumarento...
Perto, uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trêmula carpia.

Quando eu a conheci, ela trazia
Na voz um triste e doloroso acento.
Era a, cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.

Passa o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas.., que tristeza
Que alegria nos olhos das formigas!

Pobre cigarra! quando te levavam,
Enquanto te chorava a Natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...

(Olegário Mariano)

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Horário de verão começa no dia 16 de outubro

À zero hora do dia 16 de outubro, terceiro domingo do mês, tem início o horário de verão 2016/2017 brasileiro. 

Os relógios deverão ser adiantados em uma hora nas unidades federativas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Espírito Santo.

Adotado pelo país pela 41ª vez, o horário de verão se estenderá até o dia 19 de fevereiro de 2017, quando os relógios deverão voltar a ser ajustados em uma hora a menos.

Como durante o verão o uso de eletricidade para refrigeração, condicionamento de ar e ventilação aumenta, a estratégia é aproveitar a intensificação da luz natural ao longo do dia durante o verão para reduzir a demanda principalmente no período de pico, entre as 18h e as 21h, ou seja, quando mais pessoas, empresas e indústrias estão utilizando a energia elétrica.

De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), quando a demanda de energia elétrica diminui, as empresas que operam o sistema conseguem prestar um serviço melhor ao consumidor porque as linhas de transmissão ficam menos sobrecarregadas.

Para as hidrelétricas, a água conservada nos reservatórios pode ser importante no caso de uma estiagem futura. Para os consumidores em geral, o combustível ou o carvão mineral que não precisou ser usado nas termelétricas evita ajustes tarifários.

No ano passado a economia gerada pelo adiantar dos ponteiros foi de R$ 162 milhões. Além disso, o ONS também afirmou em nota que, caso não houvesse horário de verão, R$7,7 bilhões teriam que ter sido investidos para suprir o atendimento da demanda elétrica no período.

Como surgiu  No Brasil, o primeiro horário de verão foi realizado entre 1931 e 1932, pelo presidente Getúlio Vargas, com duração de 5 meses. A prática vem sendo adotada sem interrupções desde 1985, com algumas diferenças nos estados que aderem à mudança, e também nos períodos de duração.

A única exceção para o decreto 6.558, de 2008, que define as regras do horário de verão atualmente, ocorre quando o terceiro domingo de fevereiro coincidir com o domingo de Carnaval. Nesse caso, o horário de verão termina no quarto domingo de fevereiro.


A ideia de adiantar a hora oficial em períodos de verão foi lançada em 1784 por Benjamim Franklin, político e inventor americano. O primeiro país a adotar oficialmente o horário de verão foi a Alemanha, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, para economizar os gastos com carvão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ficha Limpa pode barrar 4,8 mil candidatos no País

Decisão dos TREs ainda vai depender dos legislativos
Promotores eleitorais vão avaliar impugnação das candidaturas com base em irregularidades identificadas por sistema do Ministério Público 

BRASÍLIA - Ao menos 4.849 políticos que tentam concorrer nas eleições municipais deste ano no País podem ter os registros de candidatura impugnados por serem considerados ficha-suja perante a Justiça Eleitoral, segundo levantamento obtido pelo Estado. A análise foi feita sobre as 467.074 candidaturas já validadas pelo Tribunal Superior Eleitoral até esta quinta-feira, 18.

Entre as irregularidades que enquadram um candidato como ficha-suja está desde a rejeição de contas relativas ao cargo ou função pública quanto uma condenação em segunda instância por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção, peculato ou abuso de poder econômico.

Os quase 5 mil casos foram identificados após cruzamento do CPF dos candidatos registrados com bases de dados de tribunais de Justiça, tribunais de contas e outros órgãos de controle.

Este cruzamento é feito automaticamente por um sistema do Ministério Público Federal e os dados enviados aos cerca de 3 mil promotores eleitorais, que devem verificar se a ocorrência apontada vai ou não barrar o candidato. O sistema pode encontrar, por exemplo, uma decisão judicial desfavorável ao político, mas que já está suspensa por uma liminar.

Apesar de o sistema já ter sido usado na eleição de 2014, essa é a primeira vez que todos os promotores que atuam nas eleições têm acesso direto aos dados, segundo o Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral (Genafe).

Para termos de comparação, em 2012, o TSE recebeu quase 8 mil recursos referentes a impugnação de candidatura, sendo que aproximadamente 3 mil foram oriundos de ações baseadas na lei da ficha limpa.

NÚMERO MAIOR. O Ministério Público Eleitoral acredita que o número detectado até agora possa estar subestimado. Além de o TSE não ter validado todas os registros de candidaturas até o momento, o levantamento prévio é feito de forma automática, mas há diversos casos de “falso negativo” – quando o sistema não verifica pendências do político pelo CPF, mas ele é inelegível. Por isso, cada promotor é estimulado a fazer buscas não só pelo CPF, mas também pelo nome do candidato a prefeito ou vereador, o que amplia os resultados.

Para 2018, a intenção do MP é constituir um convênio com o Conselho Nacional de Justiça que dê acesso garantido aos bancos de dados da Justiça.

A procuradora da República e coordenadora nacional do Genafe, Ana Paula Mantovani, estima que ao menos 10 mil recursos questionando registros de candidatura cheguem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir da segunda quinzena de setembro. Antes de serem levados à Corte eleitoral, os casos são discutidos nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).

Apesar dos prazos curtos para impugnação de registro, a previsão é de que nem todos os casos sejam solucionados antes do primeiro turno, que acontece no dia 2 de outubro. “Podemos ter muitos candidatos concorrendo sem a definição com relação ao registro. Se ao final a decisão (do TSE) for pela improcedência do recurso, todos os votos são anulados”, afirmou a procuradora, destacando a insegurança com relação às eleições deste ano.

O Estado com maior ocorrência de possíveis fichas-sujas que concorrem é São Paulo – localidade que também concentra o maior número de candidatos registrados. No total, o sistema identificou 1.403 políticos do Estado que possuem ocorrências que podem inviabilizar a eleição. Minas (620 casos) e Paraná (461) vêm logo atrás.

ALTERAÇÃO Alteração. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) da semana passada pode beneficiar políticos que tiveram suas contas rejeitadas por tribunais de contas. No entendimento da maioria dos ministros da Corte, cabe às câmaras municipais – e não aos tribunais de contas locais – dar a palavra final sobre o balanço contábil de políticos.

Assim, candidatos que tiveram a contabilidade rejeitada pelo tribunal de contas da localidade poderão concorrer nas eleições se o balanço não tiver sido rejeitado pelo Legislativo. A decisão foi alvo de críticas por defensores da Lei da Ficha Limpa. 

Para o presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), Valdecir Pascoal, 6 mil prefeitos e ex-prefeitos serão “imunizados pela decisão do Supremo”. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Senado define roteiro para julgamento de Dilma Rousseff


Reunião no Senado discutiu todos os detalhes do julgamento
Agência Senado

O julgamento do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, pelo Senado Federal terá início na próxima quinta-feira (25) e deve terminar na terça-feira seguinte (30), conforme o roteiro aprovado para o rito e de acordo com as expectativas dos senadores.

O processo terá início às 9h do dia 25, com a oitiva das oito testemunhas convocadas — duas da acusação e seis da defesa. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, que comandará o julgamento, informou que, uma vez que essa etapa tenha início, ela não poderá ser interrompida.

— Vamos trabalhar até esgotarmos as oitivas. Ingressaremos se necessário na madrugada de sexta para sábado porque [as testemunhas] estarão sendo mantidas isoladas, numa quarto de hotel à disposição dos senadores.

Devido a essa necessidade, ao número de senadores e ao tempo reservado para que todos possam questionar as testemunhas, a fase de oitivas pode se estender por mais de 67 horas. Cada um dos 81 senadores terá direito a seis minutos de interação com cada testemunha, e os advogados de acusação e defesa terão dez minutos.

Já estão previstas pausas na sessão, entre as 13h e as 14h e entre as 18h e as 19h. Após isso, o presidente poderá determinar novas interrupções de meia hora a cada quatro horas, ou a qualquer tempo pelo prazo que achar necessário.

A qualquer momento antes do início das oitivas o presidente poderá também decretar a suspensão da sessão, que, nesse caso, será retomada às 9h do dia seguinte. No entanto, não será possível suspender os trabalhos a partir do momento em que as testemunhas começarem a ser ouvidas. 

Sendo assim, a sessão deve avançar pelas madrugadas e também pelo sábado, com a possibilidade um pouco mais remota de também entrar no domingo.

Manifestação da presidente  A segunda etapa do julgamento começará na segunda-feira (29), às 9h, com a oportunidade para que a presidente Dilma Rousseff fale aos senadores. Ela já confirmou que comparecerá à sessão. Serão 30 minutos destinados à sua manifestação, que podem ser prorrogados a critério de Lewandowski.

Todos os senadores poderão fazer perguntas à presidente, dispondo de cinco minutos cada um para isso. O mesmo tempo é reservado para os advogados da acusação e da defesa. Caso todo o tempo seja utilizado, a participação de Dilma no Plenário poderá exceder sete horas de duração.

Discussão A fase de discussão do mérito da denúncia vem em seguida, e é aberta com os debates orais entre a acusação e a defesa. Cada uma das partes fará uso da palavra por 90 minutos, havendo também a possibilidade de réplica e tréplica por 60 minutos.

Em seguida virão os pronunciamentos dos senadores. Em ordem determinada por inscrição na lista de oradores, cada um terá dez minutos para usar a tribuna.

Ao longo do dia, o presidente poderá promover intervalos quando considerar oportuno. Também poderá decidir pela suspensão da sessão, a qualquer momento. Se isso acontecer, ela será retomada no dia seguinte, a partir das 9h. Essa regra poderá ser repetida sucessivamente, a critério de Lewandowski, até o encerramento dos trabalhos

Votação Caso não haja imprevistos ou interrupções longas, a expectativa é que a votação final do impeachment ocorra na terça-feira, dia 30. O horário depende do andamento da fase de discussão.

Antes que o Plenário possa proceder à votação, Lewandowski fará a leitura de um relatório contendo o resumo das provas e dos fundamentos da acusação e da defesa. Será permitido que quatro senadores façam o encaminhamento da votação, sendo dois favoráveis ao libelo acusatório e dois contrários. Cada um terá cinco minutos.

A votação será nominal e através do painel eletrônico. A presidente Dilma Rousseff será definitivamente afastada do cargo caso 54 senadores, no mínimo, votem pela sua condenação. Nesse caso, o presidente interino, Michel Temer, assume a titularidade efetiva do mandato. Caso não se atinja esse número, porém, Dilma retornará imediatamente ao cargo.

Para votar, cada senador deverá responder “sim” ou “não” à seguinte pergunta:
Cometeu a acusada, a senhora Presidente da República, Dilma Vana Rousseff, os crimes de responsabilidade correspondentes à tomada de empréstimos junto à instituição financeira controlada pela União (art. 11, item 3, da Lei nº 1.079/50) e à abertura de créditos sem autorização do Congresso Nacional (art. 10, item 4 e art. 11, item 2, da Lei nº 1.079/50), que lhe são imputados e deve ser condenada à perda do seu cargo, ficando, em consequência, inabilitada para o exercício de qualquer função pública pelo prazo oito anos?

Resultado O resultado será publicado tão logo seja conhecido, na forma de uma resolução do Senado. A sentença será lida por Lewandowski logo após a divulgação do resultado, deve ser reconhecida por acusação e defesa e assinada por todos os senadores. Também é dado conhecimento imediato ao presidente interino, independentemente de qual seja a decisão.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Em carta, Dilma propõe plebiscito sobre eleição presidencial

Dilma defende que população deve escolher melhor caminho
Agência Brasil

A presidente afastada Dilma Rousseff  divulgou  carta à população propondo a realização de plebiscito sobre a convocação de eleições presidenciais antecipadas.

Na carta, Dilma aborda a crise política e defende que a população decida sobre a realização de um novo pleito presidencial. 

“A restauração plena da democracia requer que a população decida qual o melhor caminho para melhorar a governabilidade", disse, ao ler o documento, direcionado à nação e aos senadores, durante entrevista coletiva à imprensa no Palácio da Alvorada. A presidente afastada apenas leu o documento e não respondeu perguntas.

No documento, intitulado "Mensagem ao Senado e ao povo brasileiro", Dilma reafirma que não cometeu crime de responsabilidade e classifica o processo de impeachment contra ela de "golpe".  Dilma diz que caso o Senado decida pelo afastamento definitivo dela da Presidência da República haverá "ruptura da ordem democrática baseada em um impeachment sem crime de responsabilidade".

Na carta, Dilma também reconhece erros cometidos durante seu governo e acena com mudanças na política econômica caso retorne à presidência.

A presidente disse ainda que o processo é injusto, pois foi "desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente."

Dilma disse ainda que apoia a luta contra a corrupção e que ela é "inegociável".

"Não tenho contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do patrimônio público e não recebi propina de ninguém", disse Dilma ao ler a carta, em referência ao deputado afastado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A presidente afastada convocou coletiva de imprensa no Palácio da Alvorada para explicar os argumentos da carta, debatidos nos últimos dias com aliados. O texto que será encaminhado aos senadores aponta um dos últimos posicionamentos de Dilma antes do julgamento final do processo de impeachment.

Na semana passada, 59 senadores votaram pela aceitação do parecer que dá continuidade ao processo. Com isso, o julgamento de Dilma por crime de responsabilidade terá início no próximo dia 25, uma quinta-feira. 

Para barrar o impeachment, Dilma precisa do voto de, no mínimo, 28 do 81 senadores. A presidente afastada não informou se irá ao Senado para apresentar pessoalmente sua defesa.

Acompanharam Dilma na entrevista os ex-ministros Eleonora Menicucci (Secretaria Especial de Políticas para Mulheres), Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Aloizio Mercadante (Educação)