Dilma Rousseff |
Prestes a perder o mandato, Dilma quer deixar o documento
como um registro histórico de sua resistência e causar constrangimento a Temer
BRASÍLIA - Após muitas idas e vindas, a presidente afastada
Dilma Rousseff decidiu deixar de lado o conselho de aliados e vai novamente se
referir ao processo de impeachment como um “golpe”, na carta que será divulgada
nesta terça-feira aos senadores. Prestes a perder o mandato, Dilma quer deixar
o documento como um registro histórico de sua resistência e causar
constrangimento ao presidente em exercício Michel Temer.
Em reunião com 15 dos 21 senadores aliados, na quarta-feira,
a presidente afastada havia dado sinais de que aceitaria a sugestão para
retirar a palavra “golpe” do texto, a fim de não melindrar os parlamentares e
conquistar votos no julgamento final do processo de impeachment.
No dia seguinte, porém, Dilma recebeu representantes da
Frente Brasil Popular, que foram contra essa estratégia. Todos destacaram que a
carta aos senadores não apenas deveria bater na tecla do “golpe” como ser ainda
mais incisiva, contendo forte tom de denúncia.
Houve até quem lembrasse ali a famosa carta do presidente
Getúlio Vargas, que em 1954 deixou uma espécie de testamento político,
informando ao povo que dera cabo à própria vida por causa de pressões de grupos
contrários ao trabalhismo. O mês também era agosto.
Até esta segunda-feira, o texto escrito por Dilma tinha
cinco páginas, mas ela disse a interlocutores que iria reduzi-lo. Faz mais de
um mês que a presidente afastada tem encaixado e depois excluído propostas de
suas anotações, na tentativa de agradar
a todos os setores. Pelo menos cinco versões diferentes já foram discutidas.
A Carta aos Senadores foi planejada pelos petistas para
lançar diretrizes de um novo programa de governo, mas, a esta altura, até o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva avalia que a ideia perdeu o sentido.
Mesmo assim, Dilma pretende admitir erros em sua gestão,
ainda que de forma genérica. Dirá, no entanto, que o que está em jogo agora não
é o mandato de um presidente, mas, sim, o futuro da democracia. Ela também se
mostrará disposta a atuar pela concertação nacional, respaldando a proposta de
um plebiscito sobre a antecipação das eleições presidenciais de 2018, e
manifestará apoio às investigações da Lava Jato.
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