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Pesquisa vai levar qualidades do pequi ao consumidor |
A cor amarela do caroço do pequi, de onde a polpa cremosa é
raspada, indica que o fruto é rico em betacarotenos, agentes antioxidantes
capazes de combater radicais livres, prevenindo o envelhecimento precoce.
O cheiro adocicado mostra que o alimento é rico em frutose,
o açúcar bom das frutas.
“Além disso, o óleo do pequi é chamado Ômega 9 e
combate o colesterol ruim no sangue.
Tem funções boas para o aparelho
cardiovascular”, explica o biólogo César Grisólia, pesquisador da Universidade
de Brasília (UnB), que estuda o fruto há 18 anos.
Os benefícios do fruto são tantos que o pesquisador – com a
contribuição de alunos da graduação e da pós-graduação da UnB – desenvolveu
técnicas para transformar a polpa em cápsulas gelatinosas que conservam os
nutrientes e devem ser ingeridas diariamente.
Grisólia chama de “fantástico” o conteúdo nutricional do
pequi. Típico do cerrado, ocorre com maior frequência nos estados de Minas
Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia e no Distrito Federal.
É um alimento
tradicional na culinária mineira e goiana, mas divide opiniões pelo cheiro e
gosto fortes, o que também dificulta que seja ingerido diariamente.
“Na polpa do pequi,
33% são fibras e sais minerais e os outros 66% são óleo. Por isso, a digestão
dele é difícil”, explica o biólogo.
“A gente fez o pequi em cápsulas para disponibilizá-lo o ano
inteiro, porque o pequi só é encontrado em feiras entre novembro e fevereiro.
E
as pessoas podem tomar pequi todos os dias, sem ficar com esse desconforto de
ficar com o estômago pesado”, acrescentou.
Segundo Grisólia, a cápsula não tem
o gosto forte, próprio do pequi.
Propriedades Pesquisas
motram que o pequi tem propriedades anti-inflamatória e é especialmente
funcional para pacientes de lupus e diabetes, além de ajudar no combate à
pressão alta e ser indicado para atletas.
“Trabalhamos com atletas maratonistas, corredores de longas
distâncias. Esses corredores passam por um estresse físico muito grande. O
pequi inibe a formação de radicais livre nessas pessoas.”
A recomendação são duas cápsulas por dia, sem
contraindicação. O produto foi registrado na Agência de Vigilância Sanitária
como nutracêutico, ou seja, uma substância de origem natural que melhora as
funções orgânicas, como a renal e a cardíaca.
Burocracia O
pesquisador disse estar satisfeito pelas cápsulas de pequi chegarem aos
consumidores após anos de estudo sobre o fruto.
“É dificílimo levar a pesquisa
ao mercado. A burocracia é pesada, mata a gente”, destacou.
Grisólia argumentou que as leis atuais que regem as
parcerias das universidades públicas com a iniciativa privada ainda
desvalorizam os cientistas, apesar dos avanços trazidos pelos Marco Legal de
Ciência, Tecnologia e Inovação – conjunto de regras que tem como uma das metas
transformar o conhecimento desenvolvido nas universidades até o setor produtivo.
O pesquisador defende que o país precisa incentivar mais o
desenvolvimento de patentes nacionais e, para isso, precisa valorizar os
pesquisadores.
“No processo, todo mundo ganha, mas o criador intelectual é o
que menos ganha. Isso desmotiva quem faz ciência nas universidades públicas do
Brasil. A regra tem que mudar.”
Segundo o acordo firmado entre a UnB e a Farmacotécnica RTK,
a empresa vai comercializar as cápsulas a partir de 14 de abril e pagar 2% de
royalties para a UnB.
“Nós não vendemos, nós licenciamos os direitos de uso.
Foi uma transferência de nossos direitos de uso para a empresa”, explicou o
cientista.
Desse valor, dois terços vão para a universidade e um terço
vai para o pesquisador. “Desse um terço que vem para mim, vou dividir com meus
alunos que contribuíram com o estudo”, disse Grisólia.
“A patente fui eu que
desenvolvi com alunos, mas, pelas regras, a patente é minha e da UnB juntos”,
acrescentou.