Eduardo Cunha vai dizendo que não é dele e que não sabe |
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é acusado
por dois empresários da Carioca Engenharia de ter recebido propina em ao menos
cinco novas contas mantidas no exterior e até então desconhecidas das
autoridades brasileiras.
Em outubro, a descoberta de quatro contas secretas na Suíça
mantidas por Cunha e sua família agravou sua situação política e gerou um novo
inquérito contra o peemedebista.
Se confirmados os novos relatos, totalizariam
nove contas bancárias no exterior ligadas ao deputado.
A Folha teve acesso à tabela de transferências bancárias no
exterior entregue pelos empresário Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco
Júnior no acordo de delação premiada que firmaram com a Procuradoria Geral da
República na Operação Lava Jato. A documentação está sob sigilo.
De acordo com os empresários, as transferências eram propina
para Cunha com o objetivo de obter a liberação de verbas do fundo de
investimentos do FGTS para o projeto do Porto Maravilha, no Rio, do qual a
Carioca Engenharia obteve a concessão em consórcio com as construtoras
Odebrecht e OAS.
Essa liberação ocorreria por influência do aliado de Cunha
Fábio Cleto, que ocupou uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal e
também o conselho do fundo de investimento do FGTS.
As transferências informadas à PGR totalizam US$ 3,9 milhões
entre 2011 e 2014, saindo de contas na Suíça dos delatores para cinco contas no
exterior que eles afirmam terem sido indicadas pelo próprio Cunha.
"Em geral, seu filho [Ricardo Pernambuco Júnior] se
reunia com Eduardo Cunha para saber em qual conta deveria ser feita a
transferência", disse Ricardo Pernambuco em seu depoimento, prestado em 30
de setembro e ainda sob sigilo.
"Todos os pagamentos feitos a Eduardo Cunha foram no
exterior", afirmou.
As contas que receberam propinas foram as seguintes, segundo
os empresários: Korngut Baruch no Israel Discount Bank (sede em Israel),
Esteban García no Merrill Lynch (EUA), Penbur Holdings no BSI (Suíça), Lastal
Group no Julius Bär (Suíça) e outra Lastal Group no Banque Heritage (Suíça).
Segundo Ricardo Pernambuco Júnior, Cunha esteve pessoalmente
no escritório da Carioca Engenharia em São Paulo em 10 de junho de 2014. Quinze
dias depois, foi feita uma transferência no exterior para uma nova conta.
Ele relata que, na época, estavam repassando dinheiro para a
conta do Lastal Group no Julius Bär.
"Acredita, portanto, que esta reunião de Eduardo Cunha
no escritório em São Paulo da Carioca tenha sido para entregar esta nova conta
do Lastal Group, no Banque Heritage", afirmou em seu depoimento, prestado
em 1º de outubro.
O empresário diz que foi cobrado por Cunha, em encontros
pessoais, quando passaram um período sem realizar transferências.
"Nestas reuniões, o deputado dizia: 'Ricardo, vocês
estão atrasados e vocês precisam regularizar os pagamentos'", contou
Pernambuco Júnior.
Diante das reclamações, o pai disse que "a partir de
julho de 2014 deu autorização para que o banco (...) fizesse débitos regulares
de US$ 134.000". O último foi em 19 de setembro de 2014.
OUTRO LADO O
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que não recebeu valores
e nem teve participação no esquema apontado pelos empresários.
Ele diz ainda que não teve acesso aos documentos da delação.
"Desminto qualquer repasse de valores e qualquer
participação naquilo que ele supostamente falou de relação com qualquer das
contas", declarou o presidente da Câmara.
A defesa de Cunha informou que não poderia comentar os
pontos específicos porque não teve acesso "aos elementos da delação da
Carioca [Engenharia]", mas que o presidente refuta qualquer pagamento
indevido e as contas no exterior.
No fim do ano passado, Cunha afirmou à imprensa que daria
uma procuração para doar o dinheiro caso fossem encontradas novas contas no
exterior.
Sobre as quatro contas na Suíça, Cunha já disse
anteriormente: "Não tenho conta não declarada e não tenho empresa
offshore, não sou acionista, cotista. Tenho um contrato com um trust, e ele é o
proprietário nominal dos ativos que existiam".
A Folha não localizou o ex-vice-presidente da Caixa Fábio
Cleto.
Procurada, a assessoria da construtora Carioca Engenharia
informou que "não comenta investigações em andamento".