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Julgamento da chacina no plenário da Justiça Federal em Belo Horizonte |
O fazendeiro Norberto Mânica,
apelidado de o "Rei do Feijão", foi condenado nesta sexta-feira (30)
a 100 anos de prisão como o mandante da morte de três auditores fiscais e
de um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O crime ocorreu em janeiro de 2004 e ficou conhecido como a Chacina de Unaí, cidade a 600 quilômetros de Belo Horizonte e situada no noroeste de Minas Gerais.
Para estabelecer o tempo de prisão, o juiz federal Murilo de Almeida
descontou dos 100 anos o período no qual ele havia ficado preso. Assim, a pena
de Mânica ficou em 98 anos, seis meses e 24 dias.
O empresário cerealista José Alberto de Castro também foi condenado pela
acusação de ter exercido o papel de intermediário na contratação dos executores
dos assassinatos e pegou uma pena de 96 anos, 10 meses e 15 dias de cadeia.
Descontado o período no qual ele passou preso, a pena seria de 96 anos, cinco
meses e 22 dias.
De acordo com as leis brasileiras, um condenado só pode cumprir 30 anos
de prisão. O corpo de jurados foi formado por quatro mulheres e três homens.
Como ainda cabe recurso, Mânica e Castro poderão recorrer em
liberdade, de acordo com decisão do juiz federal Almeida. Os réus não podem
deixar o País e terão de entregar os passaportes à Justiça.
Durante seu interrogatório, feito nesta quinta-feira (29), José Castro
confessou sua participação no crime, mas apenas do fiscal Nélson José da Silva.
O advogado dele já havia sinalizado que o cliente faria a confissão.
Apesar de negar relacionamento com Mânica, Castro afirmou que
teve conhecimento, por meio de Hugo Pimenta, delator da chacina, de um
interesse do fazendeiro na morte de ao menos um dos fiscais.
Por sua vez, Norberto Mânica negou participação no crime.
Anteriormente, já havia sido apontado como sendo o mandante por
Pimenta. Antério Mânica, irmão de Norberto e também réu no processo,
começara a ser julgado no próximo dia 4 de novembro.
Pimenta teve o processo desmembrado e a data de julgamento dele passou
para o dia 10 de novembro. Por ele ter colaborado com a Justiça, segundo seu
advogado, não seria correto julgá-lo juntamente com os demais acusados.
O Ministro do Trabalho e Emprego, Miguel Rosseto, assistiu ao primeiro
dia do julgamento na sede da Justiça Federal, na capital mineira.
As viúvas das
vítimas também participaram das sessões, mas somente duas delas deram
depoimentos durante as sessões.
Elba Soares da Silva, viúva do fiscal Nélson José da Silva, disse que o
marido relatou, na véspera do seu assassinato, o temor de ser baleado em razão
do seu trabalho.
As mortes ocorreram na manhã do dia
28 de janeiro de 2004, na zona rural da cidade de Unaí, situada no noroeste do
Estado.
Na época, Nélson José da Silva, João
Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, auditores fiscais,
além do motorista do Ministério do Trabalho Ailton Pereira de
Oliveira, foram assassinados a tiros em uma estrada vicinal do município
enquanto fiscalizavam denúncias de trabalho escravo em fazendas região.
Os quatro foram atacados quando estavam dentro de uma caminhonete,
que fora interceptada pelos pistoleiros, segundo a acusação. As vítimas
morreram no local.
Após os crimes, Antério Mânica, irmão de Norberto, elegeu-se
prefeito da cidade mineira por dois mandatos [2005 a 2012] pelo PSDB.
O julgamento de Norberto, conhecido na região como o "Rei do
Feijão", e dos dois outros acusados, estava previsto para ser realizado em
setembro de 2013, mas a defesa conseguiu adiá-lo após ter entrado com pedido de
habeas corpus para que fosse transferido para Unaí. Esse recurso foi rejeitado.
No entanto, a 1ª Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF), em abril deste ano, decidiu que o julgamento seria
realizado pela Justiça Federal, em Belo Horizonte.
Outros três réus foram condenados pela Justiça Federal, em 2013, pela morte dos
funcionários federais. Apontados como executores dos assassinatos,
Rogério Allan Rocha Rios foi condenado a 94 anos de
prisão; Willian Gomes de Miranda recebeu uma pena de 56 anos.
Erinaldo de Vasconcelos Silva, que delatou os outros dois e
confessou participação nas mortes, foi beneficiado por uma delação premiada e
apenado com 76 anos e 20 dias de prisão.
No entanto, pela legislação brasileira, a pena máxima que um condenado
pode cumprir é de 30 anos. Fonte Uol