O ex-presidente Lula após reunião com senadores do PMDB e do PT na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, em Brasília (DF) |
O ex-presidente Lula após reunião com senadores do PMDB e do
PT na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, em Brasília (DF)
Em um gesto de irritação em relação à Operação Lava Jato, o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entregou publicamente ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma edição da Constituição Federal,
nesta quarta-feira (9), como uma sinalização de que as investigações estão extrapolando
regras.
O gesto simbólico foi feito ao final de uma reunião de mais
de três horas entre Lula, Renan e cerca de outros 30 senadores na residência
oficial do Senado.
Questionado sobre o motivo de ter dado a Carta Magna ao
ex-presidente, Renan afirmou que "as investigações precisam avançar, mas
no devido processo legal", em uma referência velada às ações da Polícia
Federal e do Ministério Público Federal contra os envolvidos no esquema de
corrupção da Petrobras. Renan e Lula são investigados pela operação.
"Há uma Constituição do Estado democrático de direito
que precisa ser respeitada. Ninguém pode ser contra investigação. A diferença
da investigação é daqueles que tem o que dizer e os que não tem o que dizer.
A
[entrega da] Constituição foi para simbolizar esse momento importante, em que
precisamos garantir a Constituição, a liberdade de expressão, a presunção de
inocência e o devido processo legal", disse o peemedebista.
Questionado sobre se fazia uma referência à citação de seu
nome pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) em delação premiada, Renan afirmou
não ter conhecimento sobre o caso.
"Sinceramente não vi e não tenho preocupação. Nunca
cometi impropriedades, tudo o que disseram até aqui foi por 'ouvi dizer'. Não
há nenhuma prova e não haverá nenhuma prova. Estou à disposição para colaborar
com qualquer investigação. Nenhum homem público é imune à investigação",
disse.
Como a Folha mostrou nesta quarta, a delação premiada de
Delcídio traz citações a vários políticos, incluindo colegas do Senado. Segundo
a reportagem, o senador petista fez referências a Renan, Edson Lobão (PMDB-MA),
Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Aécio Neves (PSDB-MG), único da
oposição a ser citado pelo senador.
A reportagem, no entanto, não teve acesso ao contexto do
suposto envolvimento desses políticos. A simples menção feita pelo senador
petista não indica que os citados cometeram crimes ou que serão investigados.
Segundo relatos, o ex-presidente também reclamou da atuação
do Ministério Público na Operação Lava Jato e se disse "perseguido"
pelo órgão. Lula voltou a dizer que não precisava ter sido levado de forma
coercitiva para depor na última sexta (4) e afirmou que se tivesse sido
intimado, compareceria à Polícia Federal.
CAFÉ DA MANHÃ Com a sua entrada na articulação para barrar o impeachment
da presidente Dilma Rousseff, Lula procurou Renan nesta terça para marcar o
encontro, que inicialmente se restringiria à cúpula do PMDB.
No entanto,
senadores de outros partidos como PT, PSB, PR e PDT acabaram sendo convidados
por parlamentares.
Dessa forma, a intenção de discutir estratégias objetivas se
perdeu ao longo da reunião, de acordo com participantes.
O presidente do Senado afirmou que Lula não deu explicações
sobre as investigações que correm contra ele, mas senadores que estiveram
presentes afirmaram que o ex-presidente passou boa parte do tempo tecendo
explicações sobre o uso do sítio em Atibaia (SP) e o seu apartamento triplex no
Guarujá, litoral de São Paulo.
"Nós saímos de lá sabendo que uma reunião daquela
dimensão não teria como objetivo final que não fosse apenas esclarecimentos do
presidente.
Ele se queixou realmente, fez uma explanação em relação a questão
do sítio, do apartamento, que inclusive ele tinha ido até lá, mas quando viu
que o apartamento tinha escadas, ele não tinha comprado o apartamento, não
tinha pago, não tinha assinado nada", afirmou o líder do PMDB, Eunício
Oliveira (CE).
Segundo o Eunício, Lula foi questionado até mesmo por
senadores do PT sobre se a presidente Dilma Rousseff havia de fato feito um
convite para que ele assuma um ministério no governo.
"Ele fez questão de dizer que não teve convite, que não
cogita porque, para ajudar o Brasil, ele não precisa ter cargo de ministro,
quer vir a Brasília, quer conversar com o Congresso.
[...] Ele falou da
intenção que ele tem de não colaborar para botar fogo no país. Ele diz que é de
uma geração que lutou pela democracia, que esse é o período mais longevo da
democracia e ele não quer colaborar com o acirramento da crise.
Ele é da paz e
da conciliação. Isso foi muito bom", afirmou Renan.
O presidente do Senado disse ainda que pretende organizar
outras conversar com ex-presidentes como José Sarney (PMDB) e Fernando Henrique
Cardoso (PSDB).
"A gente tem muita preocupação com o agravamento da
crise econômica, é preciso urgentemente retomarmos as agendas estruturais,
porque quando você não resolve um problema fiscal, quando essa tarefa cabe ao
Banco Central, essa tarefa vem com o agravamento da crise, da recessão, do desemprego
e do juro alto.
Eu acho que é hora do Brasil –e o presidente do Congresso
Nacional à disposição deste sacerdócio–, para que a gente possa garantir a
democracia, o equilíbrio entre os poderes e a harmonia entre o sistema
representativo e o povo brasileiro", afirmou Renan.
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