BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados pretende encerrar esta
semana os trabalhos da CPI da Petrobrás, em meio ao surgimento de novas
denúncias sobre o suposto envolvimento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no esquema de
corrupção da estatal.
Com prazo final previsto para sexta-feira, o relatório que
traz as conclusões das atividades não vai sugerir o indiciamento de ninguém e
não trará avanços significativos às investigações feitas pela Polícia Federal e
o Ministério Público Federal.
A previsão é de que o texto comece a ser lido na noite de
segunda-feira, 19, pelo relator, Luiz Sérgio (PT-RJ).
Por ora, apenas um dos quatro sub-relatores da CPI ainda não
concluiu seu relatório. Os textos serão usados por Luiz Sérgio para formatar o
parecer final. De acordo com o deputado, o texto trará “sugestões de
aprimoramento” à estatal.
A CPI pode sugerir ao Ministério Público que indicie
personagens que fizeram parte das apurações feitas pelos deputados. Essa
prerrogativa, entretanto, não será usada pelo relator.
“É um processo em que as pessoas já estão condenadas,
sentenciadas, é o inverso das outras CPIs”, justificou o petista.
Sem avanços. Sessão da CPI da Petrobrás durante depoimento
do empreiteiro dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa; Comissão durou oito
meses
Sem avanços. Sessão da CPI da Petrobrás durante depoimento
do empreiteiro dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa; Comissão durou oito
meses
O relator é um dos defensores do fim dos trabalhos. “A CPI
da Petrobrás trouxe o (Aldemir) Bendine na semana passada, que é o presidente
da companhia, mas o quórum era baixo, o interesse era pequeno.
O que grande parte dos parlamentares tem interesse é numa
discussão que vai ser travada no Conselho de Ética”, disse, ao argumentar que
já há um processo contra Cunha no conselho.
“Não só o Eduardo Cunha, mas todos os outros parlamentares
citados que se transformarem em réus aquele fórum vai discutir”.
Questionado se não seria inadequado finalizar a CPI em plena
investigação do Ministério Público, o petista afirmou que não cabe à comissão servir
de caixa de ressonância do que acontece diariamente nas apurações sobre a
estatal. “Aí teríamos uma CPI permanente? Correríamos sempre atrás?”, disse.
Cunha. Dominada pela oposição e pelo PMDB, a comissão
blindou Cunha e focou no PT e no governo Dilma Rousseff. Nenhum parlamentar
citado nas investigações foi alvo de convocação.
O único depoimento do tipo, feito por iniciativa própria,
foi o do presidente da Casa. Em março, Cunha esteve na comissão, recebeu
elogios de colegas da base e da oposição, fez uma série de ataques ao
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e negou a existência de contas
bancárias em seu nome na Suíça ou outros paraísos fiscais.
Com o surgimento de evidências de que Cunha usou contas na
Suíça alimentadas por recursos provenientes da Petrobrás, aliados do
peemedebista agora não fazem mais esforços para estender a investigação
parlamentar.
Procurado pelo Estado, Cunha disse que não faria comentários
a respeito. A interlocutores, no entanto, afirma ser “indiferente” à
prorrogação da CPI. Segundo ele, basta que a comissão vote um requerimento pela
manutenção dos trabalhos e o envie ao plenário ou mesmo que líderes partidários
apresentem um pedido de urgência para que a solicitação seja votada.
Em quase oito meses de atuação, após duas prorrogações, a
CPI conseguiu evoluir pouco no que já havia sido encontrado por outros órgãos.
Um exemplo está no fato de a maioria dos representantes de empreiteiras
envolvidas na Operação Lava Jato que foram chamados à comissão ter levado
autorização da Justiça para não falar durante as sessões.
A CPI se envolveu em várias polêmicas, entre elas a
contratação da empresa de espionagem Kroll para investigar delatores da Lava
Jato, entre eles o executivo Júlio Camargo, que fez acusações contra Cunha.
Além disso, tentou convocar advogada Beatriz Catta Preta, que defendia vários
desses delatores.
Com a aproximação do prazo final e sem grandes movimentações
para que haja prorrogação, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-RJ),
aliado de Cunha, já encerrou o cronograma de oitivas. A previsão, após a
leitura do relatório, aponta para que o texto seja votado pelo colegiado na
quinta-feira.
Motta afirma que comissão cumpriu seu papel até o momento.
“Escutamos cerca de 150 pessoas, fizemos compartilhamento de documentos e
quebra de sigilos”, disse.
O deputado, porém, diz concordar com os argumentos de que
seria positiva a prorrogação das atividades. Apesar de não ter autonomia para
prorrogar a CPI por conta própria, o deputado tenta se distanciar de
especulações sobre uma possível proteção a Cunha com o fim da CPI.
“Sou amigo do presidente (Cunha), mas tem duas semanas que
não falo com ele para evitar ilações.
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