BRASÍLIA - O
Palácio do Planalto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificaram
ontem as articulações para salvar o mandato do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética.
A moeda de troca nesse jogo é a garantia de
que Cunha não avançará nenhuma casa no tabuleiro rumo à abertura do processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Cunha disse que não
estendeu a bandeira branca nem vai bombardear o Planalto. "Não há nem
guerra nem trégua. O que há é que eu tenho de cumprir a minha função. Se minhas
decisões podem significar guerra para uns e trégua para outros, é uma questão
de interpretação. Até agora, não fiz nada diferente daquilo que falei que iria
fazer", afirmou ele.
A pedido do
ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, o vice-presidente Michel Temer foi
acionado para conversar com Cunha e o convidou para um almoço no Palácio do
Jaburu, ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Alvo da Operação
Lava Jato e enfrentando a acusação de possuir contas secretas na Suíça com
dinheiro desviado da Petrobrás, Cunha pede que o governo tire José Eduardo
Cardozo do Ministério da Justiça.
Dilma resiste à
troca de Cardozo, que também sofre críticas de Lula e de uma ala do PT. Os
petistas que se juntaram a Cunha para atacar Cardozo dizem que ele não controla
a Polícia Federal.
"Temer seria
um ótimo nome para a Justiça", sugeriu Cunha, na semana passada. Na tarde
de ontem, ele garantiu que não tocou no assunto com o vice nem fez exigências
para o acordo com o governo.
Não escondeu, porém, a irritação com o fato de
34 dos 62 deputados da bancada do PT terem assinado requerimento protocolado
pelo PSOL e pela Rede Sustentabilidade, pedindo a cassação de seu mandato.
Muitos dos que
subscreveram o documento integram a corrente Mensagem ao Partido, grupo de
Cardozo no PT. Se o Conselho de Ética aprovar a cassação de Cunha, o plenário
decidirá o seu destino - ele precisa de 257 dos 512 votos de seus colegas para
resistir.
'Boa vontade'. Ainda ontem, no almoço com
Temer e Renan, Cunha não usou meias palavras: avisou que tanto poderia acelerar
a abertura do impeachment de Dilma como aguardar outro entendimento do Supremo.
"Se eu for bem
tratado, pode ser que tenha boa vontade com o governo, mas, se não for, posso
tomar minha decisão mais rápido", disse o presidente da Câmara.
"Estejam certos de que não vou renunciar. Podem tirar o cavalinho da
chuva."
Cunha prometeu
recorrer da decisão do Supremo, que freou sua tentativa de conferir um rito
especial ao processo de impeachment.
A oposição,
capitaneada pelo PSDB do senador Aécio Neves (MG), apresentará novo
requerimento solicitando o afastamento de Dilma, sob o argumento de que a
equipe econômica também fez manobras contábeis, conhecidas como "pedaladas
fiscais", neste ano, e não apenas em 2014.
O governo avalia
que o impeachment perdeu força depois das liminares concedidas pela Justiça. Em
conversas reservadas, porém, ministros dizem que Cunha é uma "fera
ferida" e não se pode confiar nele, que tem o poder de dar o pontapé para
a abertura da ação contra Dilma. Mesmo assim, todos impõem limites para um
acordo com Cunha.
"Na questão
política é possível a negociação, mas na área jurídica, não. Além disso, nem
Cardozo nem Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) são entregáveis",
comentou um auxiliar direto de Dilma, embora muitos apostem que o ministro da
Justiça saia no fim do ano. ]
"Alguns
deputados do PT têm dado opiniões que não traduzem a posição oficial do
partido", insistiu o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE),
numa referência ao requerimento assinado por petistas, pedindo a degola de
Cunha.
A meta de Lula,
agora, é impedir que o Conselho de Ética, formado por 21 integrantes, vire as
costas para o presidente da Câmara. O bloco comandado pelo PMDB no colegiado
tem 9 deputados e o liderado pelo PT, 7.
Articuladores
políticos do Planalto calculam que Cunha já tenha maioria para impedir a
investigação. Se ele perder o mandato, no entanto, perde também o foro
privilegiado e pode até ser preso, caso vire réu no Supremo e seja condenado.
Ao avaliar ontem
que será "quase impossível" votar no Congresso, neste ano, a nova
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e a prorrogação da
Desvinculação das Receitas da União (DRU), dois pontos fundamentais para o
ajuste fiscal, Cunha também disse que o governo precisa se empenhar "muito
mais" para recompor sua base aliada.
As negociações em
curso envolvem distribuição de cargos no segundo e terceiro escalões.
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